sábado, 17 de novembro de 2007

A maquete sem fim

Primeiro relato da  minha vida de estagiária. 

No primeiro dia de trabalho fui colocada na equipa de um concurso para um projecto para uma universidade, Keio. E esta não é uma universidade qualquer, é sim a universidade onde o meu boss ensina. Escusado dizer que a pressão era grande...

Para mim a pressão era outra. Não tanto o ganhar o concurso – isso é lá com eles – mas por ser a primeira vez que me deparo com um desafio tão tremendo quanto ... fazer uma maquete perfeita !!

Como disse noutro post, o meu talento de maquetista é um tanto duvidoso... a minha lógica é a das maquetes de estudo, para se ESTUDAR o que se pretende fazer, logo uma maquete deve ser transformável, remodelável, cortável, recolável etc etc. Para quem não faz maquetes, o resultado destas maquetes acaba por ser, em geral e especialmente no meu caso, algo bastante tosco, mas que cumpre o seu objectivo.

Agora nos ateliers Japoneses, a situação é bem diferente. Qualquer maquete, seja de estudo, final, de apresentação ao cliente ou final, tem de ser absolutamente PERFEITA. Não há marcas de cola, o cartão está sempre imaculadamente branco (o segredo da limpeza e da cola está num spray que não existe/não usamos em Portugal, e que limpa tudo. Até as marcas de tinta e cola na roupa), as paredes têm a espessura certa (não há simplificações: juntam-se os diferentes tipos de cartão que forem necessários, mas a maquete será igual ao real. IGUAL.), tal como nas lajes e, supra-sumo do pormenor, quando se juntam vários materiais para criar uma dada espessura, cola-se um papel à volta para não se verem as várias camadas.

Ah, já me esquecia do pormenor diabólico... à escala 1.200, todas as maquetes têm mobília. Imaginem uma mesa e cadeiras com 4 milímetros de altura... Graças a Deus ainda não tive de fazer mobília, senão aí é que ficava mesmo de olhos em bico!!

E das maquetes a 1.50 nem se falam ... levam televisões, materiais, quadros nas paredes, maçanetas nas portas ... uma arquitectura dos pequeninos !!

Sei bem que não sou uma autoridade para poder criticar, mas parece-me razoável dizer que são LOUCOS. E nem falo da eficiência/vantagem das maquetes com tanto pormenor, isto já é outro debate, com o qual não vos vou chatear agora.

Neste contexto, não admira então que estas maquetes sejam intermináveis.

Voltando um pouco ao tal Projecto para concurso.

Tivemos de fazer umas maquetes de estudo, mas a grande questão é que rapidamente passámos para a maquete final, independentemente de saber se se passava a primeira fase do concurso, porque os prazos de entrega entre fases eram muito curtos.

Logo, mais vale prevenir a atacar já os documentos (maquete) da fase seguinte – sabendo que na primeira fase a maquete não seria usada.

Nisto, após duas semanas desta minha primeira prova de esforço, onde tive de aprender a dominar novas máquinas e tudo, já estava a começar a ver algumas melhorias na minha qualidade de maquetista e ficar finalmente satisfeita com o que fazia.

A data da revelação dos resultados do concurso aproximava-se (quarta-feira), tal como a data da entrega da segunda fase (sexta-feira)... e consequentemente o stress também crescia, alguns dos “staff” começavam a fazer noitadas (noitadas são até às 5/6 da manhã, já que o horário normal é até à meia-noite...).

No auge da pressão, quarta-feira, sabe-se o resultado... não passámos. Ups... Melão.

 

Staff desiludido, Ban aparentemente a não mostrar grande emoção e estagiários frustrados por estarem a trabalhar para nada... no meu caso foi um sentimento misto de trabalho em vão versus ter de me matar mais dois dias caso tivéssemos passado... acrescentando o facto de agora não ter problema de consciência absolutamente nenhum por ter algumas partes da maquete menos nipónicas e bem mais toscas ! 

O que disse ao staff com quem mais trabalhava (que me pedia desculpa a mim por não termos passado... estranho...) foi que, on the bright side, foi o meu tempo de treino! Nada se perde, tudo se ganha...

Sobretudo para mim, obviamente não só em termos de talento de maquetista, mas sobretudo por perceber o sistema das grandes competições, o tempo investido, a preparação da apresentação... e como gerir a desfeita: atacar o próximo projecto.

Na meia hora a seguir à notícia metade dos estagiários já estavam a ajudar noutro projecto com entrega iminente, e eu recolocada para rematar mais uma entrega de concurso, mas desta vez com trabalho a computador (uff... sinceramente acho que estava a ficar com o dedo indicador mais musculado de fazer força no x-acto).

A partir da próxima semana tenho a sorte de trabalhar num projecto (já adjudicado) desde o desenho inicial...

 

Ah, a famosa maquete, essa, ficou duplamente sem fim!





 

Na sala de maquetes, com ar de fim de festa, e a famosa maquete ainda aos pedaços




Uma sala de aulas...

4 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida Cuclaiky,

O teu blog está soberbo e aumenta de qualidade de "post" para "post" do mesmo que aumenta a nossa curiosidade. É um prazer poder acompanhar o que se passa contigo, e assim torna mais fácil o passar do tempo e das saudades que se acumulam. Continua com esta demanda pelas diferenças culturais e isto só te pode tornar mais rica e ciente do mundo. Poli Filakia Iannis

Unknown disse...

Subscrevo tudo que o João Benis escreveu. Excepto o Poli Filakia que não sei se é private joke ou palavrão. Estava eu glowing de felicidade com o teu email e o post anterior a este, com o homem espatifado no chão do comboio, xaiça, e eu a compor mentalmente uma mensagem para aqui incluir e saltas com esta nova mensagem das maquetes no dia a seguir (que nem vim ao blogue porque achei que estava perante um juri de pequenoets). Ah! Então era esta a apresentação de que falavas no email. stop. amanhã stop. Briliânte como sempre. Mesmo assim não deves perder a próxima oportunidade de participar em maquetes, porque pelos vistos, por cá, não voltas a ter uma experiência tão, tão de excelência. Já agora... porque parece que uma maquetista estagiária no Japão, cá transforma-se em professora doutora. Continuas fotogénica. Já a maquete na mão, foi uma desilusão. Pareciam umas prateleirinhas de plástico da loja do chinês. A fotografia da sala de aulas virtual parece uma daquelas salas dos filmes nazis onde o Mr. Danger se reunia com os pares. Pois. Faltam as maçanetas...
Bjs
Min

Unknown disse...

Voltei a passar no post anterior e continua com zero comentários. O povo ficou speetchless. Continuo a remoer o homem(s) do chão. Isso para o meu feitio e das minhas carteirinhas com bananas e yogurtes sempre que me desloco mais de 2 quarteirões, dava por garantido um anexo com saco-cama. Seguir-se-ia um desdobramento com uma almofadinha ortopédica e acabaria por ser "A Bolha" cocoon a viajar nesses transportes. É que eles são uns garanhões do trabalho, mas quanto ao corpinho contentam-se com pouco. Já elas, não é bem assim. Ando aqui a escrevinhar um texto para te mandar de presente (a tempo)com umas curiosidades que espero te sejam úteis (a tempo)sobre como se tratam as pequenotas do teu país anfitrião.
Mais bjs
Min

Unknown disse...

O Poli Filakia Iannis é o teu Janeco?
Min