quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Nevão em Tokyo

O João no Japão

Pedi ao João para escrever um pequeno post sobre a vinda dele ao Japão. 

Eis o resultado. Enjoy!


nota prévia: o João, em * escreveu: "*Vou manter uma cópia do original na eventualidade deste artigo não ver a luz do dia. Afinal de contas se fosse o meu blog, era no mínimo exigente, mas de facto a carne é fraca e da exigência à censura vai apenas uma estreita distância.

Ora, como eu sou extremamente clemente e generosa, publico aqui por inteiro o que escreveu. Apenas corrigi os nomes dos lugares. Acreditem que não acertou em muitos .... Mas eu sei que estava atento na mesma ! ;)


Viagem ao Japão

 

A Maria fez-me um pedido ousado que muito me honra “tentar exprimir o que foi o meu choque com a cultura japonesa”. O objectivo será incorporá-lo no seu blog, por isso antes de começar “obrigado Maria, pelo voto de confiança”*.

Em viagem ou em trabalho lá fora, gosto especialmente de observar os costumes e aparências dos estrangeiros. Trata-se de sentir as diferenças. É muito interessante tirar algumas conclusões sem no entanto, cair no erro de generalizar ou estereotipar demasiado.

É simples perceber que uma história bem contada, apesar de menos credível, é mais apelativa com tiradas do género “lá eles são todos assim…” ou “lá eles falam todos assado…” porque o contrário pode revelar que das duas uma:

1. Não se prestou atenção nenhuma (estava-se sempre a olhar para a namorada, ou cansado e com vontade de dormir).

2. Não se sabe contar histórias (o que é gravíssimo com o tipo de responsabilidade que me deram).

Apesar das razões expostas, vou tentar ser o mais realista possível, se bem que o exagero e a metáfora, são desde tenra idade, aqueles recursos que mais gosto de usar. Receio já não saber contar histórias de outra forma.


Vou concentrar-me sobretudo nos choques culturais.

 

É importante salientar que por vontade da Maria, e com muito agrado meu, tive oportunidade de me dar com os diversos grupos em que estava inserida. Assim consegui perceber melhor o que estava a viver, e quem eram as pessoas do seu dia-a-dia nesta importante fase da sua vida.

O itinerário foi cuidadosamente escolhido, e não houve momentos mal aproveitados. 

Tokyo

Cidade fervilhante de luz. Quando a Maria me disse “a luz nas ruas dos bairros mais animados é incrível” eu pensava, que não iria ser mais do que Times Square ou Picadilly, mas são múltiplos e intermináveis “Times Square’s” que se sucedem. Tokyo tem seguramente um consumo muito… (veia do exagero a palpitar) grande, recorrendo ao exemplo dos americanos, que medem sempre as escalas em “estádios” em vez de “Watts” ou “Volts” ou de “metros” que Tokyo deveria ter energia para alimentar 4.565.456.890.223 estádios de futebol.

A agitação que se vê nas ruas, vale a pena mencionar. Noutro capítulo deste fabuloso blog, estão umas filmagens do cruzamento de Shibuya. São bem elucidativas. Quando os carros param e o sinal verde para peões acende, a sensação que se experimenta (acentuado se se conseguir ir à frente do pelotão), é autêntica àquela ordem vociferada do comandante “ATACAAAAR!!!” que despoleta uma massa compacta de pessoas a arrancar ao mesmo tempo do seu pólo e avançar implacavelmente como a corrida que antecede o confronto de exércitos.

 

Andar em ruas cheias de gente, fez-me lembrar a Gran Via. De facto a sensação que fica é que os japoneses (a par de nuetros hermanos) têm por habito comer fora, e estar fora, diga-se de passagem com alguma razão de ser, dado que as casa não têm espaço para albergar visitas, e não existe o conceito ocidental da casa como sinal de “status quo”, exceptuando o andar que ocupamos num arranha céus.

 

A economia

Acho errado pensar-se que o Japão está em recessão (felizmente existem alguns analistas financeiros achar o mesmo), mas depois de ter demonstrações como as que presenciei, onde os japoneses compravam furiosamente tudo e mais alguma coisa, e as lojas super abundavam de pessoas, prova que apesar de não terem crescimento, continuam a gastar que nem uns loucos. Os preços, esses não estarão longe dos praticados em Portugal.

As roupas são um fenómeno interessante. Na procura incessante de ser diferente, penso que no Japão existem vagas sucessivas de modas irreverentes que não habitam apenas nos filmes de ficção, mas nos passeios de rua também. As gerações mais novas vêm equipadas com os kits mais avangard. A Maria fez inclusive questão de entrar numa loja de 7 andares, que apenas se dedicava a gadgets e roupa da nova moda. É literalmente impossível pensar-se que o mundo não vai acabar depois de uma incursão destas.

A refeição normal (informações apontam para 170 estrelas michellin apenas em Tokyo, não estou por tal a contar com este estilo de possibilidade que se faz pagar cara em qualquer lugar no mundo) andará à volta de 10 a 15 euros, mas como a Maria provou-se ser uma adepta do hotsakée (que até era barato) o preço disparava normalmente para os 25 euros.

Nos transportes públicos temos alguma discrepância. Dou o exemplo da Maria que gasta 250 euros por mês, e eu que gastei 150 euros em 10 dias. A qualidade destes não pode ser posta em causa, já que cobrem meticulosamente a cidade e arredores por inteiro e têm aquecedor.


A fisionomia dos Japoneses

A fisionomia dos japoneses é intrigante. Os esforços do governo japonês são notórios dado que nos dias de hoje, ao andar no metropolitano em Tokyo não vi muitas carecas. Por dois motivos, primeiro porque de há 20 anos para cá, o leite foi inserido na dieta dos japoneses, e os resultados são visíveis. Os homens serão praticamente da mesma estatura que os lisboetas (digo lisboetas porque no porto ainda consigo ver carecas). O segundo motivo é este (e desta feita não existe exagero algum) as cabeleiras deles são espantosas. Tanto nos homens como nas mulheres. Vi muito pouco os atingidos pelo dilema da calvice.

É habitual nos homens terem umas cabeças enormes, e normalmente são feios como trovões (autênticas caraças de samurai só que feitas de carne e osso).

Já as nipónicas (não que tenha reparado pessoalmente, mas porque fui chamado atenção pela Maria) são extremamente delicadas. A aparência desempenha um importante cartão de apresentação em qualquer sítio civilizado, mas especialmente aqui. Deste modo estão usualmente bem maquilhadas, e bem vestidas. Mulher que é mulher no Japão, usa saia, e é comum estarem mesmo de mini-saia, ainda que se tratasse de ser pino do Inverno (a Maria viu algumas que tinham as pernas queimadas pelo frio… eu constatei o facto).


A religiosidade nipónica

Eu vou tentar dar ao tema a deferência que merece. Não estou no entanto muito convencido que os japoneses o façam. Na teoria sente-se todo um peso que a tradição religiosa conquistou, mas na prática o cenário é outro. Todos os santuários que visitámos primavam por obter a sua fonte de rendimento através de uma fonte mágica, um sino abençoado, uma pedra milagrosa, um trajecto revelador de sabedoria, uma árvore que dá desejos, um bolinho que dá saúde, uma dezena que cura as frieiras e um não acabar de procissão com uma multidão que se esmagava para ter lugar privilegiado em frente a umas rochas que têm de ser alvejadas com moedas para que todos os sonhos se realizem. Tudo a troco de uma moedinha. Existe ainda por cima um tipo de moeda que é mais dada a ter resposta para a súplica que é feita (são mesmo espertos).

O único perigo de resto é não cruzar uma linha de fogo de moedas. 

A beleza dos templos não pode ser posta em causa. Os japoneses são exímios construtores em madeira, e os templos são o expoente desta arte que não recorre a pregos ou parafusos, mas consiste em jogos de encaixe. Em Nara estivemos no templo de Todaiji, uma estrutura verdadeiramente impressionante, que depois viemos a descobrir ser a maior de madeira no mundo.

 

Os jardins Zen, são transcendentes mas conseguir reflectir neles, já não deve ser possível há já alguns anos, dada a afluência (na sua grande maioria de japoneses). Ainda penso para mim que talvez gravem na sua memória aquela visão apaziguadora, e a meditação fica para trabalho de casa. Kyoto está recheado de templos e jardins Zen incríveis dos quais destaco Kinkakuji, Ginkakuji e Ryoanji.

Fátima é aprendiz de feiticeiro em artefactos e produtos religiosos. Todos os santuários tinham a sua própria marca de “lucky charms” que existem para todas as sortes e maleitas.

Apesar da popularidade, a visita aos templos é um must.

 

Epílogo

 

Para acabar esta pequena crónica, gostava de frisar que o Japão é um itinerário turístico excelente, não só pela segurança que oferece, como pela experiência que é viver alguns anos à nossa frente, num ambiente que apesar de muito ocidentalizado tem raízes e tradições únicas.

É pena ser tão longe de nós.

 



ps: o blogger estã com problemas e não consigo adicionar fotografias... vou acrescentando imagens dos lugares mencionados pelo João aos poucos, senão daqui não saio... 



Música tradicional


Em pleno nevão, que melhor programa que um concerto de fim de tarde ? 

Efectivamente, depois de ir passear para o Palácio Imperial em pleno nevão - esperta!- neste Domingo fui convidada a assistir a um concerto de música tradicional japonesa, do qual podem ver um pequeno excerto em baixo.

Ainda estou com alguma dificuldade em qualificar o que vi... é de facto intrigante. A música é essencialmente constituída por uns tambores e guitarras nacionais e voz, sendo estas deveras bizarras. São uma espécie de gritos ou entoações, misturadas com recitações de poemas em japonês clássico...

De início, o ritmo dos tambores e violas criam um certo ambiente, mas as vozes, essas, parecem um tanto descontextualizadas. 

No entanto, após alguns minutos o conjunto insólito começa a fazer sentido, e parece que até nos hipnotiza um pouco, à semelhança de músicas tribais ou, culturalmente mais próximo, dos cântigos dos monges buditas... somos apenas "despertados" em momentos cruciais pelos gritos perfeitamente ensaiados das "tamborinistas" femininas.

Vejam, e ouçam:


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Era uma vez SBA...

Depois de tanto tempo sem dar notícias, o mínimo que posso fazer, antes de mais, é começar a actualizar as novidades, e a primeira é esta.

 

Bastante antes do previsto, decidi acabar o estágio.

Vários motivos para justificar esta escolha. Primeiro, o trabalho que lá fazia (maquetes essencialmente) foi interessante nos primeiros tempos, não tanto pelo trabalho em si, mas para ir conhecendo o “staff” efectivo para tentar perceber o funcionamento do atelier – e quantas coisas se descobrem!-, meter o nariz em vários projectos,  aprender a fazer maquetes decentes uma vez por todas (!!!), etc etc. Mas após esta primeira fase de descoberta, ficar até às onze da noite todos os dias a fazer maquetes, começa a ser um tanto frustrante...

Segundo, realizei que daí a 3 meses me ia embora, ainda tinha uma tese por escrever, muitas viagens por fazer, certas áreas de Tokyo ainda por conhecer e visitas parentais a receber! De facto, tinha chegado o tempo em que comparando o que aprendia no atelier com o que aprenderia em viagem, a balança começou a pesar para o lado da viagem. Neste passo, as opções e vontades tornaram-se mais claras, e a vontade de sair do atelier cresceu... No princípio de Janeiro decretei que no fim do mês me iria embora.

No final, não me posso queixar, porque as últimas semanas foram um verdadeiro presente em termos de trabalho: em vez de trabalhar na produção de materiais diversos para o projecto (maquetes, imagens, etc...), tive a sorte de poder trabalhar mais em desenvolvimento de projecto, para uma casa privada.

Foi fantástico, interessantíssimo, aprendi mais do que nos meses passados e... saí em grande e em tempo certo (isto é, antes de me colarem outra vez à mesa de maquetes...)!!

Não que alguma vez ele vá ler isto e ainda menos perceber o que escrevo, mas fica para a posteridade cibernética: obrigada Suzuki-san!

 

[Foi graças a ele que pude fazer este trabalho... foi lhe passado este projecto de repente mas, estando cheio de trabalho, passou-me a batata quente... Obviamente tudo o que eu desenhava era revisto por ele, mas foi muito giro, pelo trabalho em si claro, mas sobretudo porque tendo ele crescido no Canadá, não houve qualquer tipo de problema a nível de comunicação, e ainda aprendi algumas coisas sobre pormenores no Japão].

 

Uma questão estranha no atelier é que, quando um dos arquitectos associados se vai embora, não há festa para ninguém – aparentemente os bosses não gostam quando perdem algum elemento da equipa – mas, quando saem estagiários, temos direito a cocktail, presente e discurso ... Deve ser para compensar a inexistência do nosso salário!

 

Desta vez então, que festarola, fomos 6 estagiários a sair ! Tivemos direito a sushi, a um dos arquitectos cozinhar, cervejas sem fim, vinho ... e ainda presenteei o atelier com um belo vinho do Porto, que naturalmente adoraram e choravam por mais !

Um dos arquitectos até me pedia para, quando regressasse a Portugal, enviar mais vinho para o atelier, com pagamento ao receptor – o chefão !

 

Depois portanto deste cocktail, outro facto inédito surgiu: conseguimos arrastar mais de metade do staff a sair do atelier a horas decentes (9 da noite), para virem connosco festejar ao Karaoke!

Que diversão .... passo a explicar: a maravilha do karaoke, pelo menos cá no Japão, é que, passados 20 minutos e uma cerveja, até o mais tímido agarra no microfone e dá largas à garganta! Logo, é uma noite altamente interactiva - em que tudo se junta para cantar, conhecendo-se bem ou não - e divertida. Tendo ali staff então, conseguimos algumas performances nipónicas.

Ainda por cima, karaoke onde vamos fica situado num pequeno bairro extremamente pacato, e não se trata de um karaoke dos tempos modernos, não não... É sim um “old style karaoke”, que em vez de serem as salas privadas dos complexos modernos, é um simples bar... com um super sistema de karaoke! Este ainda tem de especial que veio conservado desde os anos oitenta, com veludo castanho nas paredes, dourado no balcão, mesas em plástico marmoereado.... e clientela local, que leva muito a sério a tarefa de cantar num karaoke! Estes, depois do espanto de verem um bando de estrangeiros ali enfiados, mais parece que nos querem ver dali para fora, pois nós só gozamos a cantar, fazemos tudo por cantar mais alto que o vizinho e a afinação é a menor das preocupações... Confesso que nos pareceu, numa das últimas sessões, aplaudiram valentemente apenas quando... perceberam que nos íamos embora!

 

Para perceberem do que falo, o melhor mesmo é verem estes vídeos .... não ponham o volume muito alto, para bem dos vossos tímpanos !!



It's alive!

Queridos amigos e família,

VOLTEI !!

De facto já era mais do que tempo para ressuscitar este blog. Desta vez não há grandes desculpas quanto à minha ausência...

Apenas um conjunto de pequenos factores: a vinda do João, que me descolou do computador durante duas semanas, trabalho intenso no atelier e, claro, quando se perde o ritmo à escrita, vem preguiça... “Amanhã escrevo” “Escrevo quando voltar daquela visita” “Escrevo depois daquela dita festa”. Os dias vão passando, e nada se escreve ... até ao belo dia que de repente volto a abrir o blog para mostrar uma fotografia a um amigo e ... choque! Já não escrevo há mais de um mês... que vergonha!

Ainda há outra questão: passado este tempo, certas características do dia a dia já entraram no mundo das imagens quotidianas – quase – normais.
Um senhor deitado no comboio ? Normal.
Repetir 40 vezes “nihon-go wakarimasen” [não percebo japonês] e levantar os ombros, de olhos bem abertos com ar de vítima, enquanto a senhora da lavandaria continuar a falar comigo durante 5 minutos em Japonês com um ar muito entendido... normal.

Mas vou fazer os possíveis para manter o meu espírito nipónico ainda inocente, para vos mostrar algumas da peculiaridades deste país longínquo...