quarta-feira, 10 de outubro de 2007

99 shop

Depois do fim de semana em Tokyo, ontem regressei para um par de dias exclusivamente em Chiba, para tratar de assuntos “domésticos” (“quartíficos” seria mais adequado...) como roupa, supermercado, burocracias e, já agora, estudar um pouco também. Assuntos banais e comuns certo, mas não desinteressantes quando se trata de os levar a bom termo no Japão!

Começo pelo básico: as idas ao supermercado. Até agora confesso que não tinham havido muitas idas ao supermercado, dado que não tinha feito uma refeição em casa. “Que luxo!” pensarão talvez, mas não tanto assim. De facto, por cá encontram-se refeições pré-cozinhadas (regra geral noodles ou arroz com alguma coisa extra) por 2 ou 3 euros, é uma questão de ir às lojas certas. Até agora tinha-me limitado a ir ao que designo como “a minha loja preferida”: a 99 shop.

Como o nome indica, é a loja dos 99 yen, ou seja dos 0.60 euros. E tal como as nossas antigas lojas dos 300, tudo aqui se compra a 99 yens (+ taxas = 104 ... mas 99 yen tem bem mais impacto!).

Imaginem um supermercado, em formato de loja de conveniência, aberto 24h, mas em que tudo, mas TUDO se vende a 99y. Vejamos (e passo a relatar exemplos do que efectivamente já comprei):

- 1 maçã : 99y

- 10 envelopes : 99 y

- 1 piaçá: 99y

- 2 esponjas : 99 y

- 2 cenouras: 99y

- 1 pimento : 99y

- 1 faca de cozinha (e bem afiada!) : 99y

- detergentes vários : 99y

- 30 molas de roupa: 99y

- 5 m de corda para roupa: 99y

- 5 cabides: 99y

And so on ... como podem ver a escolha é muito variada... quanto à qualidade, a comida é perfeitamente aceitável e parece me que os preços até são iguais aos de um supermercado normal, dadas as quantidades. Os objectos também parecem resistentes mas tenho dúvidas quanto aos detergentes... Vamos acreditar que sim senão tenho os meus pratos cheios de micróbios ... yuk.

Duvidando portanto da qualidade dos detergentes, tive de me dirigir a um supermercado mais convencional ... mas não sei se me facilitou assim tanto a tarefa, pois não existe uma única indicação em Inglês, onde então tudo se compra por instinto.... até agora ACHO que comprei detergente para a roupa e amaciador, e comprovei ao jantar que acertei no molho de soja e no azeite (sempre tinha umas azeitonas na embalagem). Uma dúvida subsiste: o leite de soja. Talvez alguns de entre vocês saibam que me mudei para o mundo da soja... mas quem diria, no país dela, estou com as maiores dificuldades em descobrir!! Até agora, comprei por duas vezes leite de vaca (e do bem gordo) e quando finalmente achava que tinha a embalagem correcta (branca e verde, como me tinham indicado), saiu-me na rifa uma espécie de limonada. Para a próxima havemos de lá chegar e, melhor ainda, perceber o departamento dos frescos, que são um amontoado de produtos derivados da soja e lacticínios, peixes sob todas as formas e feitio e alguma carne, da qual terei naturalmente de adivinhar a origem.

Existe ainda na maioria dos supermercados (como pude notar nas minhas investigações para o famoso centro comercial de subúrbio) uma zona enorme de comida pré-feita. A estrutura desta zona parece a de um mercado tradicional, mas em vez de termos a bancada do peixeiro, do queijeiro e da charcutaria, temos stands extremamente cuidados e arranjados de bolos franceses cheios de natas, pastelaria francesa, pastelaria japonesa, pastelaria inglesa, doces e mais doces (uma tentação pegada, e não estou a exagerar!), sushi, massas, noodles, arroz, sopa miso, chás, cafés e até mesmo – e que saudades tinha delas! – um enorme buffet de saladas! Sim, porque entre noodles, arroz e bolos e muito poucas saladas por aí, não sei como é que as japonesas conseguem manter a linha...

Perante a saudade do verde, dei-me ao luxo (e aqui sim foi um luxo de 9 euros) de hoje ao almoço comprar uma refeição pré-cozinhada, e escolhi obviamente uma deliciosa salada de presunto com limão confit, diversos tipos de verde, brócolos, pinhões e nozes... Mas quem bem que me soube!

Melhor ainda – ou mais alucinante! - foi o cenário em que sentei para almoçar. Não consegui tirar fotografias – fiquei sem bateria – mas tentem imaginar.

Ia eu à procura de algum verde pelo centro da cidade de Chiba – tinha lá ido tratar do telemóvel – quando, enganada por umas árvores que espreitavam por entre dois prédios, apercebo-me que não estou não no meio de um parque verde, mas de um parque de bicicletas e por cima de mim, em vez de troncos de árvores, os pilares monumentais do monorail de Chiba, e um brutal cruzamento de linhas de comboio aéreas. Que cenário. O comboio terrestre a passar à frente, as carruagens do monarail – que são suspensas – a voar por cima da minha cabeça, o céu tapado pela estrutura da linha de monorail e aqueles pilares de metal com uma altura de 9 andares ... Não era o bucólico que procurava, mas deparei-me com o tecnologicamente bizarro que se imagina encontrar por estas terras... Lembrando ainda a salada de “luxo” que tinha nas mãos e o Bruckner que estava a ouvir, combinem todos estes elementos e têm o meu almoço surrealista, no verdadeiro sentido da palavra.



ps: vou fugir à regra da escrita cronológica, e mais tarde escrevo sobre o fim de semana em Tokyo...


1 comentário:

Unknown disse...

Piaçá = piaçaba. Mas... 5 metros de corda? 30 molas de roupa? Vais estender a corda no metro e secar a roupa durante a viagem? Ou a corda já é para os enforcar? Mulher prevenida. Min